Capítulo 18

Apocalipse 18  



1 Depois destas coisas, vi descer do céu outro anjo, que tinha grande autoridade, e a terra se iluminou com a sua glória.
A. Depois destas coisas: Esta expressão se refere à sequência em que Apocalipse 17 e 18 foram revelados a João, não necessariamente à sequência dos acontecimentos registrados nesses capítulos. João não afirma que os eventos do cap. 18 ocorrem depois de todos os mencionados no cap. 17 (ver com. de Ap 4:1).
B. Do céu: O anjo é representado descendo da presença de Deus em missão especial. É durante o processo de descida que João o vê.
C. Outro anjo: Isto é, um-anjo diferente do apresentado no cap. 17: Este anjo se une ao terceiro anjo de Apocalipse 14:9 a 11 na proclamação da mensagem final de Deus ao mundo (PE, 277) e suas palavras são uma repetição das que proferiu o segundo anjo de Apocalipse 14:8 (GC, 603).
D. Autoridade: Do gr. exousia, "autoridade"(ver com. de Ap 17:13). Este anjo vem da sala do trono do universo, comissionado a proclamar a última mensagem de misericórdia divina e a advertir os habitantes da Terra do destino iminente de "Babilônia, a Grande".
E. E a terra se iluminou: Apesar dos esforços satânicos de envolver a Terra em escuridão, Deus a inflama com a luz gloriosa da verdade salvadora (ver com. de Jo 1:4, 5, 9).
F. Glória: Do gr. doxa (ver com. de Jo 1:14; Rm 3:23). É possível conceber a "glória" como uma representação do caráter de Deus (cf. Êx 33:18,19; 34:6,7). Neste caso, refere-se de maneira especial, a seu caráter revelado no plano da salvação.
2 Então exclamou com potente voz, dizendo: — Caiu! Caiu a grande Babilônia! Ela se tornou morada de demônios, refúgio de toda espécie de espírito imundo e esconderijo de todo tipo de ave imunda e detestável,
A. Exclamou com potente voz: Para que todos possam ouvir. A mensagem de Apocalipse 18 deve ser proclamada durante o período do alto clamor do terceiro anjo (GC 603, 604, 614, 615, 653) e, por isso merece o mais cuidadoso estudo.
B. Caiu: Ver com. de Ap 14:8. Sua queda confirmada; ela será punida(comparar com Is 13:21,22; 21:9; Jr 51:8).
C. A grande Babilônia: Ver com. de Ap 14:8; 17:5.
D. Demônios: Ver com. de Mc 1:23.“Babilônia, a Grande" se encontra totalmente possuída por demônios (ver com. de Ap 17:5,6,14; cf. com. de Mt 12:43-45). Talvez, em sentido especial, a referência seja ao espiritismo moderno (ver com. de Ap 13:13,14; cf. PE, 273,274; GC,558,588,624).
E. Espírito imundo: Ver com. de Mc 1:23.
F. Ave imunda e detestável: Uma metáfora visual após a outra é acrescentada para conferir intensidade à descrição da total perversão e apostasia de Babilônia. Em gênero literário, Apocalipse 18 reflete a estrutura das poesias hebraicas antigas (ver vol. 3, p. 8).
3 pois todas as nações beberam do vinho do furor da sua prostituição. Com ela se prostituíram os reis da terra. Também os mercadores da terra se enriqueceram à custa da sua luxúria.
A. Todas as nações: Ver com. de Ap 17:2.
B. Vinho do furor: Ver com. de Ap 14:8.
C. Prostituíram: Ver com. de Ap 17:2.
D. Reis da terra: Ver com. de Ap 16:14; 17:2,10,12.
E. Mercadores: Do gr. emporoi, literalmente, “aqueles em jornada”, “viajantes”, “mercadores". A linguagem extremamente figurada de Apocalipse 18 não dá certeza se esses “mercadores” são literais ou figurados. Ambas as opções são possíveis. Se o sentido for figurado, os“ mercadores” representam aqueles que defendem os ensinos e as políticas de "Babilônia, a Grande" (cf. Is 47:11-15),os bens que ela tem para exibir e vender aos habitantes do mundo, a fim de enganá-los (ver com. de Ap 18:11).
F. Enriqueceram: Do gr.dunamis, "poder". Aqui é provável que tenha o sentido de "influência" (comparar com Ap 5:12).
G. Luxúria: Do gr. strēnos, "devassidão", “luxúria ociosa"(ver com. do v. 7).
4 Ouvi outra voz do céu, dizendo: "Saiam dela, povo meu, para que vocês não sejam cúmplices em seus pecados e para que os seus flagelos não caiam sobre vocês.
A. Outra voz: Isto é, como o grego subentende, outra voz angelical.
B. Retirai-vos dela: Parece que até bem perto do fim dos tempos, alguns, talvez muitos, do povo de Deus ainda não terão ouvido o chamado para sair da Babilônia mística (comparar com o chamado do Senhor a Seu povo nos tempos antigos para sair da Babilônia literal, Is 48:20; Jr 50:8;51:6, 45). Assim como o povo de Deus se retirou da Babilônia literal a fim de voltar para Jerusalém, Seu povo dos dias de hoje é chamado a sair da Babilônia mística, para ser considerado digno de entrar na Nova Jerusalém. Presume-se que todos aqueles que verdadeiramente fazem parte de Seu povo ouvirão a voz divina e atenderão Seu chamado (ver com. de Mt 7:21-27; cf. Jo 10:4,5). Esta “voz” repete o convite do segundo anjo de Apocalipse 14:8 (ver GC,390, 603; PE, 277). As razões imediatas para esse chamado imperativo são citadas na última parte do versículo.
C. Cúmplices: Esta é a primeira das duas razões apresentadas para a retirada imediata da Babilônia mística. Os cúmplices dos pecados de Babilônia certamente têm uma parcela de responsabilidade por eles (Jr 51:6).
D. Seus pecados: De maneira geral, todos os pecados que ela leva os seres humanos a cometer. De modo mais específico, porém, os pecados mencionados em Apocalipse 17:2-6 (ver com. do v. 6). No cap. 18, Babilônia é colocada diante do juízo divino por cinco motivos: (1) orgulho e arrogância, (2) materialismo e luxúria, (3) adultério, (4) engano e (5) perseguição(ver v. 2,3,5,7,23,24).
E. Seus flagelos: Isto é, os castigos que ela receberia em cumprimento ao "julgamento" ou à sentença de Apocalipse 17:1 (ver com. de Ap 16:19; 17:1,17). A natureza destes "flagelos" é explicada (ver Ap 16:19; 17:16; 18:8,21). A maior parte do cap. 18 consiste de uma descrição vívida, mas figurada desses "flagelos". Ao passo que os cinco primeiros dos sete flagelos são derramados principalmente sobre aqueles que colaboram com Babilônia, os reis e os que habitam na terra (Ap 17:1,2,8,12), o castigo de Babilônia, a união das organizações religiosas apóstatas da Terra, ocorre durante a sétima praga (ver com, de Ap 16:19; 17:1, 5, 16). O sexto flagelo prepara o caminho para essa punição.
5 Porque os pecados dela se acumularam até o céu, e Deus se lembrou das injustiças que ela praticou.
A. Seus pecados: Ver com. de Ap 18:4; cf. Jr 50:14.
B. Acumularam: Do gr. kollaō, literalmente, “colar", “amarrar firmemente”. Os pecados de Babilônia são retratados como uma massa montanhosa que cresce compacta e unida.
C. Até ao céu: À medida que o monte figurado chega ao céu, a carreira criminosa de “Babilônia, a Grande” (ver com. de Ap 17:6) cresce diante de Deus, clamando por retribuição (Ap 16:19; cf. Gn 11:4,5; 18:20,21; Ed 9:6; Jr 51:9; Dn 5:26,27; Jn 1:2).Talvez a alusão aqui seja à torre de Babel (Gn 11:4).
D. Deus Se lembrou: A longanimidade divina está prestes a findar, e Seu juízo sobre a Babilônia mística logo será executado (ver com. de Ap 16:19). Quando aplicada a Deus, a palavra “lembrou” costuma significar que Ele está prestes a dar aos seres humanos a retribuição por um curso de ação específico, seja ele bom ou mau (ver Gn 8:1; Êx 22:4).
E. Atos iníquos: Ou seja, seus atos de maldade e suas consequências. De maneira especial, os crimes específicos de que foi acusada em Apocalipse 17 e 18 (ver com. de Ap 17:6; 18:6,7).
6 Retribuam-lhe como também ela retribuiu, paguem-lhe em dobro segundo as suas obras e, no cálice em que ela misturou bebidas, misturem dobrado para ela.
A. Dai-lhe em retribuição: Literalmente, “dai-lhe até o limite". A meretriz, ou seja, a organização apóstata chamada de “Babilônia, a Grande” (ver com. de Ap 14:8; 17:5) pagará plenamente por seus atos de maldade. Em justiça absoluta, o Céu não retém nada do pagamento devido. A retribuição dispensada a Babilônia é brevemente descrita em Apocalipse 17:16 e 17, e em maiores detalhes no cap. 18 (comparar com Jr 51:6).
B. Como também ela retribuiu: Literalmente, “de acordo com seus atos". Sua recompensa será na medida. O castigo será equivalente ao crime, ou seja, apropriado para ele (comparar com Is 47:3; Jr 50:15,29; 51:24).
C. Pagai-lhe em dobro: Literalmente, “dobrai a ela o dobro”(cf. Is 40:2; Jr 16:18; 17:18).
D. As suas obras: Sua maneira de tratar os outros será a norma ou o padrão usado por Deus para lidar com ela.
F. Misturou: No mesmo cálice em que ela havia misturado uma porção perversa para os outros beberem, Deus faz agora uma mistura terrível e a obriga a beber (Ap 14:8; 17:4; cf. Jr 50:15,29).
7 O quanto a si mesma glorificou e viveu em luxúria, deem a ela em igual medida tormento e pranto. Porque ela pensa assim: ‘Estou sentada como rainha. Não sou viúva. Nunca saberei o que é pranto!’

A. O quanto: O castigo será equivalente ao crime, medida por medida. Seu sofrimento e lamento serão proporcionais à antiga vanglória e dissipação.

B. A si mesma se glorificou: A primeira parte do v. 7 diz literalmente: “tantas coisas a glorificaram e a tornaram devassa". Foram muitos os elementos que contribuíram para seu orgulho e sua devassidão. A autoconfiança arrogante a tornou confiante do sucesso final em sua trama para eliminar o povo remanescente de Deus e reinar com supremacia sobre a Terra. Ela sente orgulho de sua riqueza, popularidade e poder (comparar com Is 47:6-10; Ez 28:2,4,5,16).

C. Tormento: Ver com. de Ap 17:16; 18:4.

D. Pranto: Ou, “luto”, em resultado dos "flagelos” que a atormentam (comparar com o lamento dos “reis” e “mercadores”, nos v.9, 11).

E. Diz consigo mesma: Ou, “está dizendo em sua mente”, isto é, quando o anjo do v. 4 dá sua mensagem de advertência, antes do fechamento da porta da graça e depois, durante a sexta praga (ver com. de Ap 17:1). Arrogância desmedida inspirou confiança plena em sua estratégia maligna para governar o mundo. A tentativa de enganar os outros resultou num absoluto autoengano. Além de embebedar os outros, ela mesma se encontra embriagada (ver com.de Ap 17:2,6).

F. Estou sentada como rainha: Observe o tempo presente (ver acima no com. sobre "diz consigo mesma"). A igreja verdadeira é representada nas Escrituras como uma "virgem pura" (ver com. de 2Co 11:2), a noiva de Cristo (ver com. de Ef 5:23-32; cf. com. de Ap 12:1; 19:7,8). A grande meretriz personifica a noiva de Cristo perante os habitantes da Terra, sobre quem ela afirma ter domínio no nome dEle. Mas ela é uma rainha falsa (cf. Is 47:6-10). É uma prostituta que nunca teve marido de verdade, mas, mesmo assim, consegue se gabar de suas conquistas. Os "reis” e os "grandes da terra” não esperam por ela (Ap 18:9,23)? Não ficam cativos de sua vontade e dos dedicados instrumentos de seus planos nefastos (ver com. de Ap 17:2)?

G. Viúva, não sou: Como “viúva”, não teria posição legal, nem direito à lealdade dos habitantes da Terra (comparar com Is 47:8,10).

H. Pranto: O que ela menos espera certamente lhe sobrevirá (ver com. de Is 47:11).

8 Por isso, em um só dia sobrevirão os seus flagelos: morte, pranto e fome; e será queimada no fogo, porque poderoso é o Senhor Deus, que a julga."

A. Por isso: Isto é, por causa de sua jactância altiva, orgulhosa exaltação do eu, devassidão irrestrita, desejo inescrupuloso de poder e supremacia, bem como ousada oposição à vontade revelada de Deus.
B. Um só dia: Alguns consideram que a expressão corresponde ao tempo profético, representando, portanto, um ano literal. Outros interpretam que, nesta passagem, o anjo destaca o caráter súbito e inesperado dos “flagelos” que recaem sobre a Babilônia mística, sobretudo, ao se levar em conta a falsa sensação de segurança que ela tinha (v. 7), ou então fala de um período de tempo indefinido. Uma vez que também se diz que o mesmo evento aconteceu em “uma só hora” (v. 10, 17, 19), a segunda explicação parece preferível (ver com. de Ap 17:12; cf. Jr 50:29,31). Além disso, o grego das palavras traduzidas aqui por “dia” e “hora” (Ap 18:10) sugere um ponto no tempo, em vez de um período. Logo, parece destacar o caráter súbito e inesperado, em vez de especificar a duração (comparar com Is 47:9, 11; Jr 50:31; 51:8).
C. Os seus flagelos: Ver com. do v. 4.
D. Morte: O resultado final de “seus flagelos” é apresentado primeiro (ver com. do v.21).
E. Pranto: Ver com. do v. 7.
F. Fome: Os adeptos de Babilônia (cf. v. 1, 2) passam por uma fome literal durante a quarta praga (Ap 16:8, 9). Contudo, o julgamento de Babilônia como organização ocorre durante a sétima praga (v. 18, 19), e a fome mencionada aqui é, sem dúvida, figurada, como seria o caso, naturalmente, de uma entidade figurada como a Babilônia mística, em harmonia com o caráter poético e figurado de todo o capítulo.
G. Será consumida: Ou, "queimada”. A mulher Babilônia, uma entidade figurada, seria igualmente queimada com fogo figurado (cf. Ef 6:16; 1Pe 4:12; ver com. de Ap 17:16). Seu destino é relatado por meio de uma imagem totalmente diferente em Apocalipse 18:21 (ver uma descrição dos eventos preditos aqui em GC,653-657).
H. Fogo: Comparar com Jr 50:32; 51:24,25,37.
I. Poderoso: Isto é, totalmente capaz de executar Sua vontade sobre Babilônia (cf. Ap 17:17).
J. Que a julgou: Evidências textuais (cf.p.xvi) comprovam a variante “tem julgado”. O juízo pronunciado sobre Babilônia é tão certo que o anjo fala como se ele já tivesse acontecido (ver com. de Ap 16:19; 17:1, 17;19:2). Aquilo que lhe sobrevém não é acidental, mas um ato deliberado da parte de Deus.
9 Os reis da terra, que com ela se prostituíram e viveram em luxúria, vão chorar e se lamentar por causa dela, quando virem a fumaça do seu incêndio.
A. Chorarão: Ou, “ficarão em luto por ela”, “soluçarão por causa dela”, em choro alto, incontido. Prevendo o próprio destino iminente, os infelizes “reis” e “mercadores” (v.11) da Terra se unem em melodia fúnebre dedicada à altiva Babilônia, atormentada em sua pira funeral em chamas. O efeito dramático dos v. 9 a 20, que narram a destruição inexorável da grande meretriz, é ampliado pelo exótico gênero literário oriental, de prolixidade poética enfatizada por imagens vívidas. O apelo de Apocalipse 18 é sobretudo emocional, mas reforçado por lógica incisiva. Aqueles que atendem ao chamado de Deus para fugir da ira vindoura (v. 4) recebem alívio do juízo iminente.
    O simbolismo do capítulo é quase que totalmente extraído do AT. A comparação das muitas referências cruzadas torna esse fato evidente. Um estudo cuidadoso desses paralelos do AT em conexão com os acontecimentos históricos lá mencionados esclarece muito as imagens intensamente simbólicas deste capítulo. Em Apocalipse 17:16, são os reis da Terra (cf. com. do v. 12) que ateiam fogo em Babilônia. Aqui eles são retratados se lamentando dos resultados desse ato, talvez ao lhes sobrevir a triste percepção de que eles logo teriam o mesmo destino (cf. Is 47:13-15).
B. E se lamentarão: Do gr. koptō, literalmente, “bater [no peito]”, “cortar [o corpo] em lamento”.
C. Os reis da terra: Ver com. de Ap 16:14,16; 17:2,12-14.
D. Com ela se prostituíram: Ver com. de Ap 17:2.

E. Viveram em luxúria: Ver com. do v. 7.

F. Fumaceira do seu incêndio: Comparar com Is 13:19; Jr 50:32; ver com. de Ap 14:10,11; 17:16; 18:6.

10 E, conservando-se de longe, com medo do seu tormento, dizem: "Ai! Ai de você, grande cidade, Babilônia, cidade poderosa! Pois em uma só hora chegou o seu juízo."
A. De longe: Sem dúvida, ao perceber que, até pouco tempo antes, eles haviam colaborado com Babilônia (ver v. 3) e se envolveram com seus "pecados", também estavam destinados a participar de seus “flagelos” (v. 4). Reconhecem que seu destino se encontra inexoravelmente ligado ao dela. Não deram ouvidos ao chamado de Deus para se retirarem dela (v. 4), e logo terão o mesmo fim (comparar com Ez 27:33,35).
B. Ai! Ai! Eles tinham a expectativa de receber "autoridade" (ver com. de Ap 17:12) permanente com sua amante, a Babilônia mística. Ela lhes garantiu que fora entronizada como “rainha” para sempre e que, caso se unissem a ela, também desfrutariam de um domínio perene (ver com. de Ap 17:2). Ao perceberem tarde demais a inutilidade desse plano, entregam-se ao mais completo remorso.
C. Babilônia: Ver com. de Ap 17:5,18.
D. Poderosa cidade: Ver com. de Ap 14:8; 17:5, 18; 18:7. No grego, a declaração da grandeza passada e do poder da Babilônia mística é enfática. O vazio de suas pretensões então é percebido, pois "poderoso é o Senhor Deus, que a julgou" (v. 8).
E. Uma só hora: Ver com. de Ap 17:12;18:8.
F. Juízo: Do gr. krisis, “[ato de] julgar, ou “[execução do] juízo”, em contraste com krima “[sentença do] juízo”(ver com. de Ap 17:1). Ao passo que Apocalipse 17 aborda, em primeiro lugar, a sentença contra Babilônia, o cap. 18 trata da execução desse veredito.
11 E, por causa dela, choram e pranteiam os mercadores da terra, porque ninguém mais compra a sua mercadoria,
A. Choram e pranteiam: Ver com. do v.9.
B. Mercadores: De acordo com uma interpretação, esses “mercadores” correspondem literalmente aos líderes de negócios e comércio da Terra, cujo apoio financeiro e material tanto contribuiu para a luxúria, o esplendor e o sucesso de Babilônia, a Grande (ver com. dos v. 7, 12-15). Segundo outro ponto de vista, são “mercadores” em sentido figurado, que representam os comerciantes das mercadorias espirituais de Babilônia, aqueles que venderam suas doutrinas e políticas aos reis e povos da Terra (ver com. de Ap 16:13,14; 17:2, 4; ver abaixo no com. sobre “mercadoria”). Em Apocalipse 18:23, afirma-se que estes "mercadores” são os "grandes da terra" (comparar com Is 23:2, 8,17; 47:13,15).
C. Ninguém compra: Os reis e os habitantes da Terra ficam desiludidos e se recusam a ter qualquer coisa em comum com Babilônia (comparar com Is 23:14; Ez 26:15-18).
D. Mercadoria: Do gr. gomos, a "carga" de um navio ou de um animal, logo, "mercadoria". De acordo com a primeira interpretação mencionada acima, ela seria formada por artigos literais de manufatura e comércio; de acordo com a segunda, ou interpretação figurada, a mercadoria corresponderia às doutrinas e políticas da Babilônia mística, chamada em outras partes de seu “vinho” (ver com. de Ap 17:2). O caráter extremamente figurado de Apocalipse 18 (ver com. do v. 9) tende a favorecer a segunda interpretação. Com a destruição de Babilônia, chega ao fim o fluxo de coisas corruptas que foram vendidas e distribuídas em nome dela, por meio das quais enganou o mundo.
12 mercadoria de ouro, de prata, de pedras preciosas, de pérolas, de linho finíssimo, de púrpura, de seda, de escarlate; e toda espécie de madeira odorífera, todo gênero de objeto de marfim, toda qualidade de móvel de madeira cara, de bronze, de ferro e de mármore.
A. Mercadoria de ouro: Não há valor exegético em tentar classificar os 28 itens de comércio listados nos v. 12 e 13, nem em extrair algum sentido oculto deles. O caráter prolixo e poético de Apocalipse 18 sugere que o propósito da lista é destacar os amplos interesses comerciais de Babilônia, se for aceita a primeira interpretação mencionada no com. do v. 11, ou, de acordo com a segunda, ressaltar a abrangência de suas doutrinas e políticas corruptas (ver com. de Ap 16:13, 14; 17:2, 4; ver lista de mercadorias em Ez 27:3-25,33).
B. Madeira odorífera: Ou seja, madeira fragrante usada para fazer incenso.
C. Bronze: Ver com. de Êx 25:3.
13 e canela de cheiro, especiarias, incenso, perfume, mirra, vinho, azeite, boa farinha, trigo, gado e ovelhas; e de cavalos, de carruagens, de escravos e até almas humanas.
A. Especiarias, incenso: O termo "especiarias” deriva de amōmon, substância extraída de uma planta cheirosa que cresce na Índia.
B. Unguento: Do gr. muron, “mirra" (ver com. de Mt 2:11).
C. Bálsamo: Ver com. de Mt 2:11.
D. Vinho: Podem-se citar evidências textuais (cf. p. xvi) para a omissão desta palavra.
E. Gado: Do gr. ktēnē, animais domesticados como bois ou bestas de carga. É provável que aqui a referência seja somente ao gado.
F. Carros: Do gr. rhedai, palavra emprestada do gaulês ou do celta, introduzida na Ásia Menor pelos gauleses que se tornaram os gálatas. Rhedai se refere, de maneira específica, a vagões de viagem com quatro rodas. O uso do termo no Apocalipse sugere que o autor havia morado na Ásia Menor e se apropriado do uso de uma palavra familiar dessa região.
G. Escravos: Literalmente, “corpos” (cf. Rm 8:11, etc.). Como item de negócio, com certeza o termo significaria “escravos”.
H. E até almas humanas: Ou melhor, “isto é, seres humanos”. Na Bíblia, a palavra “alma” significa, com frequência, “ser humano” ou “pessoa”(ver com.de Sl 16:10; Mt 10:28; comparar com “cem mil pessoas" (1Cr 5:21),literalmente, “das almas de homens, cem mil"; “em troca das tuas mercadorias, davam escravos” (Ez 27:13), literalmente, "trocavam as almas de homens”). Alguns consideram que, nesta passagem, “almas humanas” $seja uma referência à natureza espiritual dos seres humanos em questão.
14 Eles dizem: "O fruto que tanto lhe apeteceu se afastou de você, e para você se extinguiu tudo o que é delicado e esplêndido, e nunca mais serão achados."
A. Fruto: Do gr. apōra, “frutos”, ou, mais especificamente, “estação de frutos maduros”, no final do verão ou início do outono. Em sentido figurado, a referência aqui pode ser à época em que a grande meretriz aguardava ansiosa o momento de desfrutar da plenitude dos frutos de sua luxúria (ver com. de Ap 17:4, 6; 18:7).
B. A tua alma tanto apeteceu: Literalmente, “do desejo de tua alma”, com o sentido de “do teu desejo”. A palavra “alma” costuma ser equivalente ao pronome pessoal (ver com.de Sl 16:10; Mt 10:28; Ap 18:13).
C. Delicado e esplêndido: Literalmente, "as coisas gordas e esplêndidas”, ou seja, tudo que contribuiu para sua vida de luxúria e devassidão (ver com. do v. 7).
D. Nunca jamais serão achados: O caráter definitivo do destino que sobreveio a Babilônia é repetido em palavras semelhantes seis vezes nos v. 21 a 23. Ela então desce até a "destruição” (Ap 17:8, 11), para nunca mais aparecer novamente (comparar com Jr 51:26; Ez 26:21; 27:36; 28:19).
15 Os mercadores destas coisas, que, por meio dela, se enriqueceram, ficarão de longe, com medo do seu tormento, chorando e pranteando,
A. Mercadores: Ver com. do v.11.
B. Destas coisas: Ver com. dos v. 12, 13.
C. Por meio dela, se enriqueceram: A parceria com Babilônia fora benéfica para ambas as partes (cf. Ez 27:33).
D. Conservar-se-ão de longe: Ver com.do v. 10.
E. Chorando e pranteando: Ver com. do v.9.
16 dizendo: "Ai! Ai da grande cidade, que estava vestida de linho finíssimo, de púrpura e de escarlate, enfeitada com ouro, pedras preciosas e pérolas,
A. Ai! Ai: Ver com. do v.10.
B. Grande cidade: Ver com.do v.10.
C. Vestida: Ver com. de Ap 17:4.
D. Linho finíssimo: Comparar com Ap 19:8.
E. De púrpura, e de escarlata: Ver com. de Ap 17:4.
F. Adornada: Ver com. de Ap 17:4.
17 porque em uma só hora ficou devastada tamanha riqueza!" E todos os pilotos, e todos aqueles que viajam pelo mar, e marinheiros, e os que ganham a vida no mar ficaram de longe.
A. Uma só hora: Ver com. de Ap 17:2; 18:8.
B. Ficou devastada: Literalmente, “foi feita desolada” (ver com. de Ap 17:16).
C. Tamanha riqueza: Ou, “toda esta riqueza” (ver com. dos v. 7,11-14).
D. Piloto: Do gr. kubernētēs, “timoneiro", uma referência ao oficial responsável pela navegação, quer ele mesmo controle o leme, quer não. A alusão não é ao dono do navio (cf. At 27:11). Em linguagem figurada (ver com. de Ap 18:9), João continua a desenvolver a imagem sugerida pelos mercadores e seu negócio (v.11-15).
E. Todo aquele que navega livremente: Ou, "todos que navegam por um lugar", presumivelmente, para comercializar. Estas palavras podem ser consideradas um aposto de "pilotos”; assim, as duas expressões ficariam: “o capitão de todo navio, isto é, todos que navegam por um lugar". A imagem é de um capitão levando seu navio de um porto ao outro, a fim de fazer negócios.
F. Labutam no mar: Literalmente, “trabalham o mar", isto é, se sustentam da vida no mar, em contraste com aqueles que tiram seu ganha-pão do trabalho em terra firme. A expressão inclui ocupações como construção de navios, pesca, extração de tinta roxa (ver com. de Lc 16:19; comparar com Ez 26:17; 27:26-32).
G. Conservaram-se de longe: Ver com.do v.10.
18 Então, vendo a fumaça do seu incêndio, gritavam: — Que cidade se compara à grande cidade?
A. Fumaceira do seu incêndio: Ver com.do v.9.
B. Gritavam: Ou, "clamavam", ou "continuavam a gritar". Houve uma verdadeira babel de vozes à medida que as pessoas mencionadas no v. 17 gritavam.
C. Que cidade: Babilônia antiga foi uma cidade única (comparar com Ez 27:32).
D. Grande cidade: Ver com. de Ap 14:8; 17:5,18; 18:10.
19 Lançaram pó sobre a cabeça e, chorando e pranteando, gritavam: "Ai! Ai da grande cidade, na qual se enriqueceram todos os que possuíam navios no mar, à custa da sua riqueza, porque em uma só hora foi devastada!
A. Lançaram pó: Sinal de extrema vergonha ou lamento, neste caso, a segunda opção (ver com. do v. 9; comparar com Ez 27:30; ver com. de Js 7:6).
B. Chorando e pranteando: Ver com.do v.9.
C. Gritavam. Ver com. do v. 18.
D. Ai! Ver com.do v. 10.
E. Na qual se enriqueceram: Ver com.do v.15.
F. Todos os que possuíam navios: Ver com.do v. 17.
G. À custa da sua opulência: Literalmente, “de sua expansividade”. A extravagância de Babilônia levava riqueza àqueles que lhe vendiam as mercadorias pelas quais se interessava.
H. Uma só hora: Ver com.de Ap 17:12; 18:8.
I. Foi devastada: Ver com. de Ap 17:16 (comparar com Is 13:19-22; 47:11; Jr 50:13,40; 51:26,29; Ez 26:17,19).
20 Alegrem-se por causa dela, ó céus, e também vocês, santos, apóstolos e profetas, porque Deus julgou a causa de vocês contra ela."
A. Exultai: Ou, "continuem exultando". A desolação sumária de Babilônia leva vitória e alegria a todos os justos do universo. O hino da vitória sobre Babilônia é registrado celebração do livramento do povo de Deus.
B. Céus: Os habitantes do Céu são os primeiros a se alegrar com o triunfo de Cristo e Sua igreja.
C. Santos, apóstolos: Evidências textuais (cf.p.xvi) favorecem esta variante. Os "apóstolos" seriam os líderes do período do NT, ao passo que “santos” se refere aos membros da igreja de modo geral.
D. Profetas: Talvez a referência seja aos profetas de modo geral. Neste caso, porém, é mais provável que a alusão seja aos profetas da época do AT (ver com. de Ef 2:20).
Julgou a vossa causa: Literalmente, “julgou seu juízo”, com o sentido de “executou sua sentença". Ela havia decretado a morte do povo de Deus (ver Ap 13:15; ver com. de Ap 17:6), mas agora sofre do mesmo destino que havia reservado para os fiéis (comparar com o destino de Hamã, em Et 7:10; sobre o meio de execução da sentença divina contra Babilônia, ver Ap 17:1, 16, 17). Este evento ocorre durante a sétima praga (Ap 16:19; cf.Ap 19:2).
21 Então um anjo forte levantou uma pedra do tamanho de uma grande pedra de moinho e lançou-a no mar, dizendo: "Assim, com ímpeto, será lançada Babilônia, a grande cidade, e nunca mais será achada.
A. Um anjo forte: Tradução literal da expressão.
B. Grande pedra de moinho: Grandes pedras de moinho como esta eram movimentadas por um animal, em contraste com as pequenas, que eram colocadas para girar à mão.
C. Arrojou-a para dentro do mar: Comparar com a ilustração feita por Jeremias do destino de Babilônia antiga (Jr 51:63,64; ver com. de Is 13:19; Ap 14:8; ver explicação bíblica do símbolo da inundação em Is 8:7,8; Jr 50:9; 51:27,42; Ez 26:3,4).
D. Com ímpeto: Literalmente, “com pressa”, “com um choque”. A palavra é usada por escritores gregos clássicos para se referir ao confronto da batalha e a uma inundação repentina. Em Atos 14:5, um termo cognato é traduzido por "tumulto". Com um arremesso tremendo, a pedra de moinho é lançada nas profundezas do mar. Logo, Babilônia afundará no esquecimento ou "destruição"(Ap 17:8) de maneira definitiva (ver com. de Ap 18:14; comparar com Jr 51:42,64; Ez 26:3,19; 27:32,34).
E. Nunca jamais será achada: Ver com.do v. 14. A descrição feita por João do estado de desolação da Babilônia antiga (v. 21-23) deve ter causado profunda impressão nas pessoas de sua época uma vez que foi na época deles que a infeliz cidade finalmente se transformou em ruínas desabitadas (ver com. de Is 13:19).
22 Em você nunca mais será ouvido o som de harpistas, de músicos, de tocadores de flauta e de trombeta. Em você nunca mais se achará artífice nenhum de qualquer arte que seja, e nunca jamais se ouvirá em você o ruído de pedra de moinho.
A. Voz. Ou, "som”. Os v. 22 e 23 consistem em uma descrição vívida e figurada do estado de desolação de Babilônia (ver com.do v. 19; comparar com Is 24:8; Ez 26:13).
B. Harpistas: Do gr. kithrarōdoi, músicos e cantores que tocavam a kithara, "cítara", para acompanhar suas canções, portanto, “menestréis”. A cítara era um instrumento de cordas com caixa de ressonância de madeira, muito semelhante à lira.
C. Tocadores de flautas:
D. Jamais em ti se ouvirá: A arte e o regozijo cessaram (ver com. de Ap 18:14;cf. Ez 26:13).
E. Artífice: Os artesãos, mecânicos e trabalhadores qualificados foram todos embora. Cessou a manufatura.
23 Também nunca mais brilhará em você a luz de uma lamparina, e nunca mais se ouvirá em você uma voz de noivo ou de noiva, pois os seus mercadores foram os grandes da terra, porque com a sua feitiçaria você seduziu todas as nações.
A. Candeia: Literalmente, “lâmpada” (ver com. de Ap 1:12). A escuridão total da noite é um retrato vívido da ausência de vida.
B. Noivo: Toda vida familiar e social chegou ao fim (cf. Jr 25:10).
C. Os teus mercadores: Ver com.do v.11.
D. Os grandes da terra: Comparar com Is 23:8; Ez 26:17; 27:8; Ap 6:15.
E. Feitiçaria: Isto é, os enganos praticados por Babilônia para garantir a lealdade dos habitantes da Terra (ver Ap 13:14; 16:14; 19:20; ver com de Ap 17:2; cf. Is 47:9, 12, 13).
24 E nela foi encontrado sangue de profetas, de santos e de todos os que foram mortos sobre a terra."
A. Sangue: Ver com. de Ap 16:6; 17:6.
B. Profetas: Ver com. do v.20.
C. Todos os que foram mortos: A Babilônia mística representa as religiões apóstatas desde o início dos tempos (ver com. de Ap 14:8; 17:5, 13). Todavia, os capítulos 13 a 18 abordam, de maneira mais específica, o auge da apostasia no fim dos tempos. Por isso, em um sentido mais geral, a frase “todos os que foram mortos” pode incluir os mártires de todos os tempos. Sem dúvida, a ênfase aqui recai sobre aqueles que deram a vida na batalha final do grande conflito entre o bem e o mal, e provavelmente também sobre as pessoas que Babilônia pretendia matar, mas foi impedida por intervenção divina (ver com.de Ap 17:6; cf. Is 47:6; Jr 51:47-49).
Referências:
Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia: Filipenses a Apocalipse, Volume 07. CPB, Tatuí, SP. 2014.
Espírito de Profecia. Primeiros Escritos; Grande Conflito